quarta-feira, 23 de maio de 2018

Helsinki City Marathon 2018. A minha 10ª, foi tirada a ferros!

A maratona do ponto de vista de um atleta de baixa competição!
Não escolhi o título mais óbvio, mas fui mesmo o primeiro português, envergando a camisola do Clube Atletismo de Lamas, a terminar a maratona de Helsínquia. Mais tarde voltarei a este assunto.

Nunca tinha experimentado tão curto intervalo entre duas maratonas. Houve dois fatores a condicionar esta decisão. 

O primeiro foi Barcelona 2018. Tal como disse no post dessa aventura, o facto de ter corrido à defesa, deixou-me com a sensação que não tinha deixado desgaste excessivo no esqueleto, para que não pudesse pensar em fazer nova prova antes do descanso de Verão. Descanso esse que está relacionado com questões profissionais, e ao mesmo tempo com as elevadas temperaturas que se fazem sentir no Alentejo e Algarve. Nada convidativas a plano de treinos rigorosos, nada mesmo.

O segundo factor, foi o Azores Blue Island Ultra Trail // 70 Km de 2017. O ano passado no pós Roma 2017 fiz a preparação para o trail dos Açores por esta altura do ano. Apesar da desistência na prova, os treinos tinham corrido muito bem, é uma altura do ano com boas temperaturas para treinar. Isto tudo, para dizer que podia tentar arranjar uma prova, antes do Verão. Em que de certa forma aproveitasse os kms nas pernas da preparação de Barcelona, com mais uns ajustes no entretanto. A ideia foi cozinhada no avião de Barcelona para Lisboa. Faltava arranjar uma data que fosse exequível. Primeiro as questões pessoais, depois as profissionais, e os custos. Quando digo que uma maratona não é só o dia da prova, não é a brincar. E não falo só dos treinos, que são da minha responsabilidade. Existem mais pessoas a contribuir para que as coisas aconteçam dentro da tranquilidade. E garanto que não seria possível doutra forma.

Aparece assim no horizonte a maratona da  capital finlandesa, Helsinki City Marathon 2018. Faltava apenas saber como ia gerir os treinos. Em dois meses, recuperar de Barcelona, e preparar Helsínquia. Alterei a filosofia de treinos que costumo utilizar. Sem ser cansativo no discurso, digamos que mantive distâncias, mas não exagerei em nada na intensidade, salvaguardando sempre os ossos. Acabei por treinar à defesa. Tenho que ser sincero, andei sempre com ótimas sensações. Sensações de que não estava a fazer nada de exagerado.
E também com a informação pessoal, que pós Helsínquia, sairia do modo plano de treinos, que já leva quase seis meses, e entraria no modo treinos e corridas descontraídas nos próximos três meses. Essa informação ajudou muito ao compromisso com o plano.

Dentro desses dois meses estava o melhor dia do ano, 23 de Abril. O dia em que fez 16 anos que sou pai. Sou mesmo um privilegiado pelos filhos que tenho... Um privilegiado!!!

Havia ainda uma coisa ou outra na agenda do atletismo. Trilhos dos Pernetas 2.5, Corrida só para duros nos Moinhos de vento e a Meia maratona de Cortegaça.

Trilhos do Perneta 2.5
Os Trilhos do Pernetas 2.5, era o expoente máximo no que à organização de eventos diz respeito, que tínhamos entre mãos. Havia o ano anterior como modelo de sucesso, tínhamos que no mínimo manter a fasquia. Este ano com mais de oitocentos participantes, e a ter que rejeitar muita gente nos últimos dias. No meu caso, face à  distância, apenas posso colaborar com uma ideia parva ou outra. O nosso centro de inteligência não permite ter ideias espertas, isso já está muito gasto.
Vamos mais por caminhos por explorar, às vezes nem faço ideia como lá chegamos. No dia da prova foram mais questões logísticas de reconhecimento de percursos, manutenção de sinalização. Fazer com que todos os participantes tivessem a melhor experiência. Que nada corresse mal. Que feedback recebemos...
Para lá disso, havia uma delegação do Alentejo que ia participar na prova. O Eduardo Lobo, Ricardo Neves, João José, Marco Guerreiro. Um gosto enorme em “levar” esta malta lá acima. Estiveram presentes no meio dos Pernetas originais, dos genéricos, etc, etc. E no fim ainda ficaram em terceiro lugar por equipas na distância em que participaram. “Os Pernetas Alentejanos”, é malta cinco estrelas.
Vou ter que deixar aqui escrito no blogue.
A cara de satisfação daquelas centenas de pessoas, no pós prova, que vi no pátio da escola, a degustar a sandes de ovo estrelado com presunto e a bela da mini… É uma memória que já ninguém me tira. Não somos melhores do que ninguém, mas somos diferentes!!!

Corrida só para duros, Moinhos de vento 
Com o Luis Mestre à cabeça da organização, teve mais uma vez lugar a corrida só para duros, nos Moinhos de vento. Fui participar e levei companhia de luxo.
Houve uma altura em que a participante mais nova da família, já não estava muito pelos ajustes… “Mas tens a certeza que isto da caminhada são só 8 kms?!” Está quase… Era sempre a resposta!!! Nada que a grelhada mista no fim não fizesse esquecer.
Só uma palavra para a organização. Pessoal, eu não como carnes vermelhas, mas como frango… Fizeram uma dose individual de bifes de peru só para mim… A sério… Malta… Vocês estão cá dentro!!!

Meia maratona de Cortegaça 
A meia maratona de Cortegaça aparece na agenda como uma prova Perneta. Ou seja, uma prova com muita participação do Clube Atletismo de Lamas. E como ao nível pessoal, foi possível conciliar, lá vou fazer um treino/prova em família.
Fui deixado na praia de Cortegaça às oito da manhã, duas horas antes da prova, por dois elementos (Carlos, Nuno) que iam fazer uma maratona em dia de meia maratona.
Mas eram mesmo os únicos… Eu só me dou com gente maluca, ponto. Mas vistas bem as coisas, tinha mais tempo para o pequeno almoço. Não demorou nada e chegava o resto da maralha.
Tinha dito na véspera, ao jantar. Amanhã a ideia é fazer 1h 21m, não me quero desgastar muito para Helsínquia. Acabei por correr lado a lado com “irmão” Filipe, fiz de pacemaker.

Ele depois pagou duas cervejas pelos dois minutos que fez a menos do que estava à espera.  Vá, pagou também ao Nuno Silva. O nosso homem bala desta meia maratona, ganda Nuno (1h 14m). Incrível a quantidade de pessoas que se metem com o Filipe ao longo da corrida, até cansa só de ouvir. Forte, forte abraço para a família perneta que se cruzou comigo neste fim de semana.

Helsinki City Marathon 2018
A maratona de Helsínquia, apesar de ser numa grande cidade europeia, não é aquela prova tipicamente comercial. Já vai na 38ª edição, mas não tem intenções de aumentar o número de atletas inscritos. Vê-se pelos prémios que pagam aos vencedores. Catorze mil participantes nas quatro provas do evento. Dois mil e oitocentos deles, na maratona. Só para se ter uma ideia, Lisboa e o Porto, tem o triplo. A organização é zen, está sempre tudo bem. A feira onde se levanta o dorsal, é metade do tamanho da Primark de Portimão (risos)…
Já fui lá procurar qualquer coisa para a Bárbara, não me lembro o quê… Para a Bárbara teve ser uma peça de roupa de princesa… Isso de certeza!!!  Vá, não é uma feira muito grande (Ainda me estou a rir da comparação, é penar…).
Vamos lá ao que interessa. 42.195m feitos às três da tarde. Num percurso que não lembra a ninguém. A minha ideia sempre foi correr abaixo das três horas, na altura da inscrição, quando solicitado o objetivo, pus 2h 58m. Tinha visto a altimetria, os treinos tinham corrido bem, mas como já disse, sempre sem exagerar na intensidade.
O problema foi que a altimetria facultada, não tinha nada a ver. Vou pôr foto do registo Garmin. Era um sobe e desce constante, tal e qual uma montanha russa. Em linguagem de atletismo, um parte pernas do caraças. Cedo tive que recorrer à experiência, aos vinte e poucos kms já estava a gerir e a fazer a mim mesmo a pergunta. “Vamos ter Porto 2015??? Não aconteceu! Eu no Porto faleci ao km 35, e ressuscitei ao 38. Eu pelo menos não me lembro de nada, ao que consta não deixei de correr. Em Helsínquia, não chegou nem perto, estive sempre muito consciente. Mas as 2h 55m, foram mesmo tiradas a ferros.
Que tive que por muita gente ao barulho, lá isso tive. Quando corre um, corremos todos.
Tenho o hábito, nas vésperas das maratonas, dizer ao Eduardo, se te sentires cansado a determinada hora, é porque o pai precisou de te ir “buscar” para dar uma mãozinha. Já escrevi isto, mas vou repetir, o Eduardo e a Bárbara, dão sempre aquela passada mais difícil de dar. E desta vez deram uma ajuda tão importante. Mas a sério!!!

Helsínquia
Ainda deu para deambular um pouco sobre a capital finlandesa. Uma cidade, sem “aquele monumento”, mas imponente. Cosmopolita, muito organizada, e com um nível de vida muito lá em cima. Foi o sítio onde estive até hoje, onde se respira mais liberdade.
Para dizermos bem de uma coisa, não temos de dizer mal de outra. O meu país preferido é Portugal, de longe, mas fiquei surpreendido com a Finlândia, neste caso específico, Helsínquia. É incrível como a organização rigorosa  pode funcionar no melhor dos sentidos, de uma forma descontraída. Uma cultura surpreendente.
É tudo  muito caro, comparado com a nossa realidade. Mas fiquei mesmo muito bem impressionado.
Durante  a deambulação, entrei num bar de forma aleatória. A primeira visão foi uma garrafa de vinho de Borba na garrafeira… Motivo mais do que óbvio para conversa com os donos do bar. Ainda por cima vinho… Um assunto que domino tão bem. Foram buscar também o espumante Raposeira, são as duas marcas portuguesas que comercializam. Dizem que qualidade/preço, não dão hipóteses. Eu fiquei pela cerveja.
Muito boa, e cara pra caraças. Mas o “pior” foi quando me perguntaram o que andava ali a fazer. “Corri hoje a maratona”, respondi. Como é que se chama? Foram imediatamente aos telemóveis ver a classificação… Quase que tive de dar autógrafos… Você foi o 16º
daquela gente toda?!? Eu só queria beber uma cerveja descansado. Raios partam a garrafa de vinho de Borba!!! (Foi um pedaço de noite incrível!!!)

Suécia 
A viagem também me permitiu conhecer a Suécia, Estocolmo mais concretamente. O que dizer da Suécia?
Tem portas de embarque, zonas de restauração, zona duty free, portas de embarque, zonas de restauração, zona duty free, portas de…
Raios me partam se a Suécia não parece um aeroporto!!!! Vá, a cerveja não é má… E cara pra caraças!!! (escala 2h 10m)

Nota de rodapé 
Nas últimas duas maratonas que concluí, antes de Helsínquia, Roma e Barcelona, aproveitei de uma forma divertida as classificações para criar títulos de posts todos “pipis” para o blogue. Desta vez podia ter feito o mesmo. Mas posso estar a passar uma mensagem distorcida da minha forma de estar no atletismo.
Dois anos depois de começar nas corridas, e já com algum andamento ao nível amador, comecei a participar nas provas regionais. Rara era a participação em que não fazia pódio nos escalões.
Mas a verdade é que também foram raras as vezes que esperei pela entrega dos prémios. Na altura em que percebi que estava a entrar num espírito que não se coaduna com a minha forma de estar, deixei de participar.  Nada contra com quem pensa de forma diferente. O pessoal que aparece nestas fotos, o Manuel Ferraz, o Nuno Correia, o Felisberto Reigado, etc, etc, são pessoal
cinco estrelas. São todos da minha idade, com uma nuance. Eles começaram a correr aos 6 anos, eu comecei aos 36… Tinha que arranjar desafios em que passasse nos intervalos da chuva. E aí surge o interesse em correr maratonas comerciais. Com milhares de atletas, onde fosse só mais um. Curiosamente, na investigação sobre provas internacionais surge o papakilometros, blogue do “irmão” Carlos. Daí até me juntar aos Pernetas foi um pulinho. Aquela é que é a minha forma de estar. Diversão como base principal, competição, mas de forma interna, pessoal. 

Isto já vai tão longo…

Mas ainda vou contar duas histórias dos meus pódios preferidos.
Um dia destes ao abastecer nas bombas de Almodôvar, onde passo mais vezes a correr, comentava com o senhor a escalada de preços dos combustíveis. Quando o homem se vira pra mim. “Ainda você é daqueles que mais  poupa  em combustível!” Como assim? Perguntei. “Então você já viu bem a quantidade de kms que você faz a correr, é que você dá-lhe grandes doses homem…”
O segundo episódio passou-se num almoço de produtores de vinho caseiro em Almodôvar.
Participei no lugar do meu irmão, que não pôde marcar presença. O que uma pessoa não faz pela família… O senhor que estava à minha frente olhou para mim e perguntou. “Não era você que ia a correr esta madrugada na estrada nacional?” Era, sim! Respondi. “Epá, no outro dia encontrei-o perto de Castro Verde, vejo-o  sempre por todo o lado a correr… Épa você corre o raio que sa farta!!!” 
Eu não sei o nome destas duas pessoas, eles não sabem o meu, nem que fiz esta ou aquela maratona. Mas são duas pessoas que me conhecem. As palavras que me dirigiram foi com estima, gosto e sinceridade. Estes é que são os meus pódios preferidos.  

Deixo um agradecimento sincero à forma carinhosa como sou tratado neste mundo da corrida. Onde treino, quem me segue e torce por mim, com quem treino, convivo, colegas de clube, e às pessoas mais próximas. Acreditem que a mensagem passa. Às vezes deixam-me sem jeito…
Muito, muito obrigado!

Boas corridas