sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Viena e Dublin

 A maratona do ponto de vista de um atleta de baixa competição!



GR60 

Em Julho de 2023 recebi um convite para participar num evento particular, GR60, a Grande Rota das Montanhas Mágicas, 275 km. Tudo isso está documentado em posts anteriores escritos pelo Carlos. O que não está lá escrito é que fiz os últimos 80 km lesionado… com uma dor no calcanhar esquerdo. Calcanhar achava eu… era o tendão de aquiles. Era o início de um calvário de lesões. (Se soubesse o que sei hoje tinha continuado na mesma, sem hesitar um segundo).


Comecei imediatamente os tratamentos e a respeitar na íntegra as recomendações. Estava inscrito na maratona de Bilbau em Outubro. Tinha esperança de recuperar a tempo dos treinos… resumindo… não recuperei!


Em Novembro já treinava com pouco incómodo no tendão, estava a fazer ponto de mira a Viena. Assim que voltei a treinos mais a sério em Dezembro, perdi a coxa direita…mais três semanas de paragem. Treinos mais intensos em Janeiro … perdi a coxa esquerda… mais três semanas parado... Assim que foi possível voltar à estrada, abdiquei completamente de treinos de velocidade. Tentei acumular o mínimo de km exigidos para completar a distância na capital austríaca. No entretanto ainda fui fazer a meia maratona de Berlim. Desisti com incómodo nas coxas… desisti, mas concluí!!



Maratona de Viena

Desde 2014 que não começava uma prova sem o objetivo de correr sub três horas. Saí com a intenção de correr mais devagar do que o habitual desde o primeiro metro. O que tinha passado nos meses anteriores fez-me cumprir à risca o meu plano. Vi paisagens, falei com pessoas, marquei passo a companheiros de viagem (vieram agradecer-me). Foi muito diferente do habitual. Não houve stress. Não houve pressão. Não foi ao meu jeito. Mas foi bom concluir os 42 km na bela cidade de Viena.



Eu sei, já passaram umas frases em que não escrevi nada sobre lesões… pois o plano de treinos de Dublin começa com mais uma… voltei a perder a coxa direita!!



Tendão de aquiles esquerdo, coxa direita, coxa esquerda, coxa direita. Como é óbvio este ping pong tem a ver com descompensação. Dói de um lado, carregamos no outro inconscientemente…


Quatro semanas de paragem, três semanas a perder o medo da dor, cinco semanas de treino. Sem treinos de velocidade pura e dura como é óbvio.


Tinha ainda uma paragem antes de viajar para a Irlanda. Ia fazer a meia maratona de Leiria, era uma espécie de TAC. O resultado do exame foi o que eu esperava. O estado de forma era… não estar em forma!! Apesar disso ajudou bastante a preparar a abordagem em Dublin! Para lá dos diagnósticos técnicos, houve o bom do convívio com a família do norte. Umas conversas, umas cervejas, comida da boa, muito muito bom!!

Para Dublin levei a família do sul. Curiosamente, boa conversa, umas cervejas, boa comida, muito muito bom!! Só a viagem com eles já era mais do que suficiente. Junta-se o plus de 42 km pelas ruas e pelos parques de Dublin.



Maratona de Dublin

A estratégia era diferente de Viena. Tinha a convicção de que se fizesse tudo normal na primeira metade da prova, havia a possibilidade de ir atrás das sub três horas. O objetivo era passar à meia maratona com 1:29… Passei com… 1:29… Ah pois é!! Cuidados e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém. Com muitas dúvidas e insegurança ao longo dos km, agarrei-me à experiência acumulada ao longo dos anos. As coxas aguentaram, e o resto é história. As 2:58 souberam pela vida. De longe a mais saborosa de todas!! Na Primavera há mais!!

Muito obrigado a tanta gente que foi dando uma palavra de apoio. Muito muito obrigado a quem me ajudou no tratamento das lesões. Eu prometo que vou fazer reforço 🙄 😁!!!


Em relação às duas cidades, culturas diferentes.


Viena é uma cidade monumento, qualquer foto dá um “postal”. Respira organização e segurança. As pessoas não são as mais expansivas, mas são muito educadas.

Dublin não tem tanto “postal”, mas tem pessoas… tem as pessoas mais simpáticas e afáveis de todos os sítios que já fui. Uma cidade segura e organizada também. Aquela fama de ter muitos bares… não é só fama!! É pessoal que adora festa bem regada!!

Para escolher entre as duas… utilizando uma expressão que usamos para muitas situações

Às segundas quartas e sextas, vivia em Viena… Às terças quintas e sábados, vivia em Dublin!!

Para dizermos bem de uma coisa, não precisamos dizer mal de outra. É uma velha máxima que me acompanha!! Gostei “imenso muito” das duas!!


E pronto já chega de partilha...


Boas corridas






sábado, 17 de agosto de 2024

 


Foi assim o início do torneio da vaca

…ainda podemos jogar?

- Agora já não dá, já fizemos o sorteio e já começou o torneio…

 Sou interrompido por outros dois indivíduos

-Ainda podemos jogar?

-Claro que podem, a vossa equipa adversária está aqui a falar comigo!

De 172 equipas passou à soma final de 174. Iam estar 348 pessoas a jogar à sueca no pequeno Centro Cultural e Recreativo de A-do-Neves. É juntar os acompanhantes, o staff, e tínhamos perto de 500 pessoas em pouco mais de 150 metros quadrados. Para ajudar ainda tinha outro pormenor. Tinha segunda volta… quem era eliminado na primeira ronda, entrava num outro sorteio para um prémio menor. Tinha tudo para correr bem… ou não!!


Introdução feita, vamos lá aos pormenores


Tinha tomado posse da direção do Centro em 2003. Nesse ano fizemos um torneio de sueca, englobado nas festas de Verão, com bons prémios. O primeiro lugar eram 4 borregos, já em comparação com outros torneios da zona, eram um luxo. Se não estou em erro, pouco mais de sessenta equipas. O que para a época era muito bom. Mas faltava qualquer coisa que inovasse… faltava qualquer coisa… faltava um golpe de asa. Tive a ideia da vaca, e lembro-me de pedir encarecidamente a toda a gente que contei que não divulgassem nada. Não podíamos correr o risco de ser copiados numa qualquer data antes. Todos cumpriram. A “bomba” só veio ao mundo quinze dias antes nos prospetos da festa. Era o assunto do momento. O torneio da A-do-Neves ia ter uma vaca no primeiro prémio… não ia ter uma, ia ter duas!!! Na mesma altura que tive a ideia da vaca, apareceu um prolongamento da mesma ideia …pusemos na rua seiscentas rifas para um sorteio de outra vaca… ah pois é! Foram duas!!!


Foi um dia longo. “Cuidar” de tanta gente num espaço tão pequeno não era tarefa fácil. Lembro-me que grande parte do staff perdeu a voz. Lembro-me do responsável do bar, o Zé Manuel, que infelizmente já não está cá, me dizer passadas pouco mais de duas horas do início do torneio. “Já não temos comida nem bebida, não há nada!!!”. Lembro-me de um atrito ou outro, sempre resolvido sem conflito.


Demos o valor monetário da Cornélia e da Mimosa aos vencedores do torneio e do sorteio. Não houve sacrifício animal.


Com todas as outras atividades da festa a darem um extraordinário contributo, o bar, a bilheteira, a quermesse, o torneio da malha, tiro aos pratos, etc, etc. Fizemos a melhor festa de sempre. A culpa foi da Cornélia e da Mimosa!! Não foi, a culpa é da A-do-Neves!


Veio do início dos anos oitenta a tradição de fazer festas de Verão. Um dos meus primeiros trabalhos foi recolher garrafas durante os eventos. Já com o meu irmão na direção, demos início à aquisição de uma antiga taberna/mercearia (devoluta), para construir aquele que é hoje o Centro Cultural e Recreativo de A-do-Neves. Tivemos (muita) ajuda das entidades públicas, Junta de Freguesia e Câmara Municipal. Mas a maior ajuda foi da A-do-Neves


Há uns tempos organizámos uma São Silvestre. Tivemos 300 pessoas a comer de borla no pós corrida no centro. Qualquer coisa impensável. A culpa é deste ou daquele… não, a culpa é da A-do-Neves



O exemplo esclarecedor de que a culpa é mesmo da A-do-Neves foi o jantar comemorativo do 20º aniversário do torneio da vaca.


Apareceu a ideia de fazer o almoço, divulgamos à população e a resposta foi o centro cheio. Em pleno mês de Agosto, mês de férias. Uma grande parte não mora atualmente na aldeia. As pessoas alteraram a vida delas para estarem presentes. Acreditem se quiserem…ainda sobrou dinheiro para comprar mais equipamento para o centro!!! Pessoas boas, gostam de receber bem, não se importam de trabalhar desinteressadamente. A culpa é mesmo da A-do-Neves!!



Como é óbvio havia mil histórias para contar, mas resumi o mais que pude para deixar este bocadinho no arquivo.


terça-feira, 8 de agosto de 2023

GR60 - 275 km ponto de vista Carlos Cardoso (epílogo)

Está feito!!!


GR60 - Conclusões & Agradecimentos

 

Foi brutal ...

E já se passou quase um mês … o tempo voa, essa é que é a verdade.

Faltava este post para encerrar a Aventura que foi fazer o GR60 com amigos, faltava registar as conclusões e fazer os agradecimentos devidos.

Resumindo a GR60 foi brutal em todos os sentidos …

… foi brutal como percurso, com 14 etapas muito diferentes umas das outras. Houve muitos km feitos durante as noites em que com certeza ficaram paisagens e locais maravilhosos por ver – por outro lado o que tivemos oportunidade de ver à luz do dia foi fantástico com algumas zonas absolutamente arrebatadoras. E tivemos direito a uns pôr e nascer do sol indescritivelmente belos e impossíveis de explicar por palavras ou de captar em fotografia. Tivemos oportunidade de passar por muitos pontos de interesse, povoações, umas maiores, outras mais pequenas, igrejas, capelas, rios, tascos, cafés, jardins … fica sempre algum conhecimento novo em cada uma destas visitas, a isso chama-se descoberta, conhecimento.





…foi brutal como desafio físico e psicológico … a distância mete respeito, são quase 300km. O desnível é bruto, com quase 20.000m de desnível acumulado que já não é brincadeira nenhuma. Embora muito seja feito em estradões, mesmo algum alcatrão, tb existem zonas mais técnicas, empedradas que aumentam a dificuldade, ainda mais com o acumular dos km nas pernas. Eu costumo dizer que nestas maluqueiras uma boa preparação física naturalmente ajuda (e muito), mas a partir de certo momento é a mente que te carrega … a diferença entre uma boa preparação fisica e uma menos boa, é que provavelmente em vez de precisares de apelar à força mental aos 80km, só precisas dela lá para os 120km 😉. Como sempre passamos por altos e baixos, chegamos a entrar no tal poço mais profundo, mas com a entre ajuda que existiu, lá fomos escalando os muros para sair desses poços e continuarmos o nosso caminho. Se caminhamos muito? Claro que sim … o ritmo médio total ligeiramente acima dos 15min/km demonstra isso … mas descontando os tempos de descanso que parecem muitos a quem vê de fora e são poucos para quem está lá “dentro” tb demonstram que se correu muito … aliás … eu na minha visão romântica da coisa, imaginava-nos constantemente parados em tascos a beber cerveja e a dar mergulhos em todos os rios e riachos que aparecessem pela frente. A realidade foi bem diferente e bem mais dura … paramos em tascos, bebemos as nossas bejecas, mas tivemos sempre que andar da perna se queríamos cumprir e chegar no sábado a Arouca.





a tentar sair do mais fundo dos poços ...

.. foi brutal pelas pessoas … e quando refiro pessoas refiro-me ao grupinho que se juntou para a aventura, os que correram, os que estiveram no apoio. Refiro-me às pessoas que fomos encontrando pelo caminho, personificados naquele casal que à saída de Cinfães, com um calor abrasador nos foi buscar umas garrafas de água gelada ao seu frigorifico ou daquela familia do restaurante na Gralheira que a nosso pedido nos fez umas pratadas de massa que souberam pela vida, ou ainda aquele guineense sipático que num banco de jardim meteu conversa comigo. Refiro-me também ao pessoal que nos acompanhou à distância, fosse pelas redes sociais, fosse por mensagens ou telefonemas. Obrigado a todos.

estas duas canitas eram do casal que nos deu a água ... gente boa

Não consigo deixar de comparar esta aventura à minha participação na PT281 há uns poucos anitos atrás. Há semelhanças na distância, na duração, por ambas terem sido no mês de Julho. No entanto tb há diferenças, logo começando por uma ter sido em prova e esta ter sido assim à “pirata”, embora tivessemos um objectivo concreto. Considero o percurso da GR60 bem mais dificil, pela altimetria muito superior, em parte pelo tipo de trilhos mais técnicos que apanhamos – tb se torna mais complicado de gerir a GR60, pois não sendo uma prova, estamos à mercê dos tascos, dos pontos de água (felizmente muitos) e da ajuda exterior de apoio que possamos ter. Num prova sabemos que em determinados sitios tens os abastecimentos e as bases de vida com os teus saquinhos à espera. Por outro lado a PT281 foi de um calor extremo, muito mais dificil de gerir que a GR60 que tirando alguns poucos troços tem bastantes pontos de água pelo caminho. A GR60 não foi uma prova, a medalha é o que te fica na memória, as fotos e no meu caso estes registos no blogue – não conta como prova oficial. A PT281 além das memórias, dos registos no blogue é uma prova e tem uma medalha oficial, fica no teu CV gravado a ouro e tem um T-Shirt toda catita para encheres o peito de vaidade sempre que a vestes. Resumindo vale muito a pena fazer ambas as duas, se me deixassem escolher uma teria que mandar a moeda ao ar 😊

Vamos aos agradecimentos que isto já vai longo …

Flávia e Pai do Leandro – obrigado pelo apoio durante boa parte desta aventura. Muito importante saber que estavam lá quando foi preciso, não só por transportarem as nossas coisas mas pelos miminhos, por organizarem o jantar, pelos sorrisos e boa disposição. Ahh … obrigado tb pela roupa lavada e cheirosa 😉

Flávia, Pai do Leandro e Pumba 

Minha rica mãezinha – por muito que me dê cabo da cabeça para não me meter em alhadas deste calibre, depois apoia como ninguém. A aletria enviada pela Dora para nos encher as baterias na Fraguinha prova isso mesmo. Obrigadoooo.

Agora aos meus companheiros de aventura … obrigado por alinharem nestas maluqueiras .. isto sozinho era giro, mas acompanhado com “familia” tem um saber diferente:

Bruno – meu menino, isto começou por tua causa … porque querias voltar a fazer 3 dígitos e eu andava com vontade de fazer uma aventura grande. Depois, deu-te a malandrice e preparação zero, acabou por ser o Afonso a te “salvar” de um estouro monumental - agradece-lhe 😉 … na próxima não falha, o “estouro” fica guardado.

safaste-te de boa moço

Leandro – és um gajo de tomates caralhes!!! Meteres os pés ao caminho, numa aventura desta envergadura, sem ter experiência é de coragem. Volto a repetir, que estiveste muito bem e que te deves orgulhar dos teus primeiros 3 digitos e de mais uma ultra distância feita no dia seguinte. Ficam as experiências que vão ser muito úteis em aventuras futuras. Ainda te vou ouvir dizer que “o raio do velhinho é que tinha razão” 😉

e cuidado com os touros ...

Domingos – estiveste no nascimento desta brincadeira … foste o gajo que escolheu a GR60 por entre as várias opções, por ser mais perto de casa. Já nos conhecemos há uns anitos das organizações de eventos, para mim és o pai do trail no nosso Concelho, o grande impulsionador da modalidade por estas bandas. Além de um maquinão do caralho acima de tudo és um gajo à maneira, daqueles que estão sempre lá quando é preciso. Não me esqueço de teres partilhado a tua manta térmica comigo em Sever do Vouga, quando não estavas em muito melhor estado do que eu. Esse gesto mostra quem é o Domingos e mais não preciso de dizer. Obrigado companheiro!!

Sir Domingos

Luis Teixeira – já nos conheciamos mas só de nos vermos por aí. Não deu para grandes confraternizações pois fizeste a tua “GR60” e muito bem. Que és uma maquina já sabia, faltava confirmar o que tb já desconfiava e para mim é mais importante que ser ou não máquina. És um gajo à maneira, passaste com distinção na “recruta” … voltar a Arouca depois de tantos km e horas nas pernas, à noite para nos receber é de gajo à maneira, não é para qualquer um. Agora depende de ti se queres voltar a entrar neste grupinho em aventuras futuras, se arranjas a paciência para isso 😉 … ahhh … só ainda não consegui perceber um pormenor … se ao nivel de beber cevadas estás ao nivel do resto da malta 😊

agora aguenta ...

Luis Lobo – costumamos dizer que somos os irmãos que a corrida nos deu. Dificil dizer algo mais acertado por muito estranho que possa parecer. Como é que duas almas penadas, que vivem a quase 500km de distância, que se falam poucas vezes durante o ano, tem uma afinidade tão grande. Deve ser por ambos os dois terem uma apetência natural para se meter em alhadas como esta. Nunca pensei que fosses aceitar participar nesta maluqueira por motivos profissionais, mas como me disseste …”eu é que decido a minha vida” … e ainda bem que decidiste vir. Já sei … numa próxima vais ter um compromisso 😉

vem um gajo do Alentejo para isto ...

Nuno Lima – o meu velhinho é o maior!! Meu companheiro de aventuras!! E querias tu ir a Santiago em vez da GR60 😉… para mim, se tivesse que escolher o MVP desta aventura eras tu!!! Eu vi com estes olhinhos a fibra de que és feito!!! Fonix … incrivel velhinho … sou um menino à tua beira! És o meu herói!! E vou-te convidar e obrigar sempre a estar presente nestas aventuras … mas só porque assim o mais velho és tu 😉

o meu velhinho ...

Deixo o meu agradecimento final para a minha Pikinita. A Dora foi um anjo da guarda para todos nesta aventura, desde que “pegou” em nós na Fraguinha, nunca mais nos deixou, foi um tal de apaparicar a malta com mimo. Tinha um quarto alugado e anulou para nos acompanhar durante o período mais difícil da aventura que foi a 2ª noite, decisão que me deixou de sentimentos opostos … por um lado não me agradava minimamente ela andar pelas serras de carro sozinha durante a noite, por outro, numa altura de difícil gestão saber que tínhamos alguém por perto deixou-nos bem mais descansados. Foi ela que descobriu um café que nos “salvou” a vida e um restaurante onde pudemos carregar as baterias com comida a sério antes de atacar as etapas finais. Eu já sabia que tinha um “anjo”, agora o resto da malta tb ficou a saber 😉 ... ahh... e aquele bilhetinho para mim? Fez-me suar dos olhos ...

a Pikinita ... apoio vital

Bem … agora já chega de GR60 … este ano não, mas quem sabe se para o ano não nos metemos noutra … eu provavelmente não posso nessa data, mesmo sendo eu a marcar 😊

quinta-feira, 27 de julho de 2023

GR60 - 275 km ponto de vista Carlos Cardoso (III)

Não podia ser melhor contado... Grandes relatos... muito bom Carlos!!!


GR60 - Aventura pelas Montanhas Mágicas - dia 3

 

depois da tempestade vem a bonança

Etapa 12 – Sever do Vouga – Felgueira (27,8km, 1140D+, 625D-)

Onde é que a gente ia? Ahhh ..

“Acordei uns 15 ou 20minutos depois novamente a tremer como varas verdes … tinha uma mensagem do pessoal a dizer que estavam na padaria … ao sair do carro doía-me tudo, virilhas, pés, pernas e não conseguia para de tremer … entrei na padaria, dirigi-me ao pessoal e disse “eu fico por aqui, desisto….””

Oh páh … eu dava tudo para ter um registo das caras dos meus amigos de aventura neste momento … ali estavam aquelas almas penadas, piores que um chapéu de um trolha, tão destruídos como eu e vem um caralho como eu dizer “eu desisto” … não houve uma palavra sobre a minha vontade em desistir … o Lima levantou-se e disse-me “senta aí” e foi-me buscar um café quente e uma sande de queijo … o Domingos embrulhou-me na sua manta térmica … o Lobo olhava para mim e pensava “what the fuck???” …

… senti vergonha, confesso … estava a escolher o caminho mais fácil … tudo isto se passou num minuto, o tempo suficiente para eu juntar os remendos em que estavam o meu corpo e a minha alma e dizer para mim mesmo … desistes o caralho!!! Agora vais com eles até ao fim …

txiii .. como te puseste rapaz

O cafezinho, o pãozinho com queijo mas ainda mais o “mimo” aqueceram a alma e o corpo. Já não tremia .. estava destruído mas não tremia. Tomo decisões rápidas mas que foram as mais acertadas … mudei de meias e calcei as sapatilhas de estrada, mais confortáveis, menos estáveis. O suficiente para me sentir melhor dos pés que já apresentavam as primeiras bolhas, mas muito longe do habitual. Enchi os flasks e preparei tudo para uma etapa longa até Felgueira. Vamos caralho …


tem que ser ...

oupas

tou lixado para os aturar

nunca mais uso meias de compressão

tenho que ter uma paciência

O tempo continuava instável, mais aberto mas ainda apanhamos alguma chuva na primeira meia hora. Depois abriu totalmente e tivemos sol o resto do dia.

Demoramos uns bons 20min a entrar no ritmo, depois os pés e as pernas voltaram a estar em condições … incrível .. como num momento estás que nem um passo consegues dar sem teres dores em todo o lado, e a seguir estás a correr a um ritmo razoável ou a subir rampas em caminhada forte sem grandes problemas. E querias tu desistir, morcão!!!



Esta etapa embora dura pelo desnível positivo que tinha não nos custou muito … os km fluíam bem. A Dora ligou a dizer que havia um restaurante em Felgueira e que fechava a cozinha às 14h … estava a tentar convencer o dono a guardar 6 sopas pois não sabia se chegaríamos a tempo. Pelos vistos não lhe resistiram ao charme, e as sopas pelo menos estariam garantidas. Mesmo assim o objectivo passou a ser chegar a Felgueira antes das 14h.

O Domingos e o Lobo arrancaram mais fortes ainda com 10km feitos … queriam tentar dormir um pouco em Felgueira. O Leandro voltava a acusar desgaste, especialmente quando subia muito (falta de treino com desnível … da próxima não falha 😉) e só dizia “raio dos velhotes” 😊 …. Eu e o Lima fomos ficando com ele, sempre um pouco mais à frente para não o deixar “amalandrar muito”.


E assim fizemos todo o percurso … quando faltavam 3 ou 4 km tb eu e o Lima arrancamos e chegamos uns bons 20min antes das 14h … o Leandro viria ter ao Restaurante.

sexy mother focas

O restaurante é Top … e estava cheio de gente bem cheirosa para o almoço em família, tb havia um grupo grande de motoqueiros … e nós todos suados e sujos …csafoda … venha mas é a sopinha e algo mais … topem o repasto … que maravilha.





Agora vinha uma etapa mais curta até ao Merujal … iriamos subir a Freita por um lado e descer pelo outro num percurso que me parecia acessível e bonito.

 

Etapa 13 – Felgueira-Merujal (12,8km, 415D+, 650D-)

Mas depois do almoço deu aquela moleza e o soninho voltou. Juntou-se a nós a Teresa, esposa do Domingos para acompanhar nesta etapa.

Houve divisão do grupo para esta etapa. O Domingos seguiu com a Teresa. Eu, o Lobo e o Leandro (que voltava a estar branco e maldisposto) decidimos dormir uma sesta de 30min. O Lima decidiu seguir sozinho e esperar no Merujal por nós.

Mesmo com uma barulheira do caraças dos gajos do café, das motas do motoqueiros dormi que nem um bebé deitado num pedaço de relva em frente ao restaurante. O Lobo e o Leandro tb, assim como um canito que deve ter achado piada aos novos companheiros de sesta 😉 … quem tb fez a sesta foi a Dora, mas no carro. Isto de acompanhar uma coisa destas não é nada fácil.


lol


Exactamente 30min depois toca o meu despertador … acordar o Lobo, preparar a coisa e siga. O Leandro tinha decidido ficar mais um pouco, a ideia era fazer mais esta etapa e a Flávia o vir buscar.

Esta etapa foi muito tranquila … fui o tempo todo na letra com o Lobo … depois da grande subida, corremos uns poucos km um pouco acima dos 5min/km … incrível, depois de 250km nas pernas, e depois de termos passado pelo que passamos.



A meio recebo uma chamada do Leandro um pouco aflito …

L - “Carlos, está aqui um Boi no meio do trilho”

C – “txiii … está a olhar fixamente para ti?” a rir-me por dentro, pois era um vaca, daquelas típicas e inofensivas que andam a pastar soltas por toda a Freita, e sabia exactamente qual era pois tínhamos passado por ela no trilho há uns minutos atrás … até falei para ela e de facto ela olhou-nos fixamente..

L – “sim, está!

C- “tás fodido moço, se puderes foge” …

L- “tás a falar a sério?” … não me contive e escangalhei-me a rir

C- “és mesmo menino da cidade caralhes … é uma vaca páh, e não fazem mal a ninguém … “

Acho que me fui a rir durante uns bons km … Leandro – para a próxima aventura, treino com desnível pelos percursos da Freita, ou do Marão, ou de Montemuro … para treinar as pernocas e te habituares aos animaizinhos das serras 😉

o "touro" era esta menina 

Ainda me estava a recompor desta história engraçada e liga-me o Lima … “acho que me perdi, segui o PR7 …” … não acredito, tantos percursos para se enganar e foi escolher logo o PR7, um dos mais difíceis … a sorte é que passa ao Merujal. Este Lima não existe … pior orientação que ele só mesmo o nosso Américo, o GPS humano 😊



mais uma marca importante ...

Chegamos ao Merujal e fomos ao café do Parque de Campismo beber uma Cola gelada (eu) e uma Super Bock (o Lobo). Não havia rede, não conseguia contactar a Dora mas sabia que estaria algures por ali. E estava um pouco mais abaixo, com o Domingos, a Teresa e o Lima tb já tinha chegado.


Toca a preparar para a última etapa … vamos voltar a Arouca.

 

 Etapa 14 – Merujal-Arouca (23km, 600D+, 1205D-)

Teresa & Dora ... equipa de apoio do Merujal

sigaaa ....

23km para acabar esta aventura. Sentia-me mesmo bem e o mesmo sentimento parecia-me transversal aos meus amigos. Apenas o Lima estava com uma corrida um pouco forçada … com um percurso maioritariamente a descer e plano corremos muito … eu tive uma paragem técnica para soltar uns javalis e corri abaixo dos 5min/km para apanhar os meus compinchas … incrível … a este ritmo chegamos antes das 21h.


Mas seria fácil de mais, não acham?

A partir de um terço da distância começamos a entrar naqueles trilhos típicos da Freita, muita pedra que ao início ainda se aguenta bem, mas com o tempo se torna chato e massacrante. É um dos motivos porque não me aventuro muito em provas pela Freita. E foi aqui que o Lima voltou a ter dores fortes nos pés e nas canelas.

Entretanto liga o Luis Teixeira que já tinha chegado a meio da tarde a Arouca – maquinão 😉 … queria saber a que horas prevíamos chegar, queria estar connosco no fim. Aponta para as 22h, talvez um pouco antes.

Nesta longa etapa a tortura tb é psicológica … é que começas a ver Arouca lá no fundo logo por volta dos 5km … mas o percurso leva-te a passar Arouca e a ir “passear” por umas aldeolas (espinho por exemplo) na direcção contrária sem aparente necessidade nenhuma. É que aqui já só vais a pensar em chegar.

Várias vezes passas por cruzamentos com estradas em que tens placas a dizer “Arouca” enquanto o percurso segue em sentido contrário. O Lima várias vezes, no desespero, disse para irmos directos a Arouca, que já chegava, que tínhamos km a mais, bem acima dos 275km que a rota indicava. Mas eu não deixei …


A tentação foi grande, mas é para fazer a rota … bem me custou insistir, por ele, confesso. O Lima ficou lixado, bem notei … mas foi. Entretanto escureceu, tivemos que voltar a colocar os frontais … faltavam 6km e o Domingos recebe uma chamada … ficou para trás. Pouco depois, como que possuído pelo diabo, passa por nós a grande velocidade a dizer “só paro no carro” … cada um com a sua maluqueira…😉


A minha preocupação era o Lima … ele nestes últimos km mostrou a raça de que é feito … até doía a alma ver aquele gajo a sofrer atrozmente das canelas e dos pés e mesmo assim a tentar correr nos planos e nas descidas para despachar a coisa e não nos atrasar mais. Várias vezes nos disse para irmos andando. mas isso, como é lógico, estava fora de questão.

O Lobo ia abrindo caminho, o Lima no meio e eu fechava a comboio … houve momentos em que só me apetecia pegar no velhinho ao colo e carrega-lo até à  meta .. mas o gajo é grande e pesado, e careca 😉.

Tentava distrai-lo com conversa de chacha mas não funcionava… houve uma altura em que ia atrás dele e só o ouvia a gemer a cada passo de corrida em que fiquei com os olhos húmidos … deve ter sido algum mosquito que me entrou no olho … fonix .. que herói … ir ali, com umas pernas pesadas mas ainda na boa era para meninos .. ir ali no estado em que ele ia já não é para qualquer um … grande Lima, é o maior.


Finalmente Arouca … ligo à Dora a dizer que vamos chegar pela Camara Municipal e descer a avenida principal … ela diz que vem ao nosso encontro …

Fazemos o último km a caminhar … a curtir a chegada … o Lima já se ri, já diz piadas, as emoções estão à flor da pele …tá feitinho e muito bem feito. A Dora filma o momento …

Reencontramos o Domingos, seguimos para junto dos carros, e entretanto chega o Luis para os abraços e fotos finais.

a Dora faz parte desta aventura ...


os maiores!!!

Estava na hora de regressar a casa, tomar um banho … ainda comi 2 mistas e 1 malga grande de Nestum antes de me enfiar na minha cama … que maravilha sentir o conforto da nossa cama ao fim destes dias … adormeci rapidamente com aquele sentimento bom, orgulhoso do feito, feliz pelo que tive oportunidade de viver nestas quase 70 horas de aventura.

Haverá mais um post para fechar esta aventura, faltam os agradecimentos, faltam algumas conclusões, … quem sabe amanhã!!!