quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Bruxelas 2019. A faltar aos pódios, desde 1890...


A maratona do ponto de vista de um atleta de baixa competição!



O início 

“Porque é que não vais fazer a maratona de Lyon connosco.”

Foi mais ou menos assim que começou a maratona de Bruxelas, no Verão de 2018. 
Uma conversa entre mim, o Maurice e o António. O Maurice está casado com a minha prima Cristelle, e o António com a minha prima Maria, vivem em  Lyon. Eles tem um grupo de corrida, “As Charrette”. Grupo que costuma participar em maratonas e trails de longas distâncias. À proposta respondi que já tinha corrido em França, Paris 2016. Aliás, de todas as provas que fiz, é a única maratona que não me importo de repetir. Lyon estava fora dos planos, sugeri Bruxelas porque a nível logístico seria o mais próximo para eles. Houve acordo de princípio, faltava deixar passar o tempo. Mais tarde era afinar estratégias. E uma lesão do Maurice tudo levou… Teve que arrepiar caminho, parar para ver. Ele era o elo da operação… A vida segue o seu caminho. Siga!

Entretanto…

Ao longo do tempo houve várias conversas dentro da alcateia. Para nós esteve sempre em aberto ir na mesma. Até uma última conversa no pós Estocolmo… Reservo, inscrevo-me ou não?! Com a Bárbara a dizer. “Marca já antes que haja outra coisa qualquer”. O Eduardo concordou… Portanto… Siga!

Ir com os miúdos visitar  uma capital europeia já é motivo mais do que suficiente para a viagem. Depois juntava-se o desafio de preparar uma maratona durante o núcleo duro do Verão. Pessoalmente tinha ainda outro foco de interesse, queria criar um paralelismo para 2020. Para o ano,  com os meus tempos, dispenso sorteio na maratona de Berlim, tenho entrada direta.  Berlim é uma das Majors, se puder, quero participar. A prova na capital alemã é um fim de semana antes de Bruxelas. Um hipotético plano de treinos… É ainda mais… VERÃO!!!
Depois de preparar a logística, foi só esperar pela altura de começar o plano de treinos. Não havia dúvidas das dificuldades que iriam aparecer. Foi estabelecer um mínimo, custasse o que custasse. Ficou mais feio quando me inteirei da altimetria do percurso… Mas a sério?! Vou deixar passar o tempo, e mais perto logo vejo… 

Vou ter que fazer um parêntesis…
(São Silvestre A-do-Neves)

Era para ter abordado este tema na publicação anterior. Só que na altura acabei por me esquecer completamente .
A São Silvestre A-do-Neves foi um projeto pessoal, no qual contei com pessoas muito chegadas para o levar avante. Ninguém faz nada sozinho. A essas pessoas, muito muito obrigado. Um agradecimento a todos os patrocinadores, são todos meus  amigos. Seriam incapazes de me negar fosse o que fosse. Um agradecimento à Câmara Municipal e à Junta de freguesia, não faltaram com nada. Um grande agradecimento a todos os participantes, juro que me cheguei a emocionar de tanta felicidade estampada nos rostos. Valeu muito a pena. E por último um agradecimento especial à minha família do Norte. Acho que melhor do que palavras para os descrever, foi o que ficou registado em fotos,  vídeos, áudios e sobretudo ao vivo. Pessoal vocês são os maiores, mesmo!
A decisão de não continuar o evento foi tomada antes da última prova. Havia um senão, a edição que faltava tinha de correr às mil maravilhas. E correu. Baseando-me na minha experiência, acho que temos que saber quando parar. Eu achei que era o momento. Tinha a ambição de que todas as pessoas que me ajudaram a tornar isto possível, ficassem ligadas a algo diferente de tudo o que já foi feito. Diferente para melhor. Acho que foi conseguido.
Não resisto a contar o episódio, no dia que contei ao Eduardo e à Bárbara, acho que em Maio.
“O pai já não vai fazer mais nenhuma São Silvestre A-do-Neves.”
Estávamos a almoçar, eles ficaram com o garfo a meio caminho da boca,  a olhar para mim. Tipo a pensar. “Então… Este indivíduo que é o nosso progenitor, passou-se!!!” 
Eles acompanharam sempre de perto todas as incidências e o respetivo sucesso. Eu depois acabei por lhe explicar o que escrevi nas linhas anteriores.

A preparação

No post anterior acabei por partilhar os três treinos longos que fiz. Escolhi os três percursos mais difíceis de treinos. Castro Verde, Semblana e por fim Albufeira. Tem em comum, zonas de vários kms de subidas e respetivas descidas. Era mesmo para cumprir serviços mínimos acordados.



Treinos técnicos, uma vez por semana quando era possível… Os de recuperação, sempre! A juntar a isso, mais uma corrida ou outra para manter a máquina ligada. Apesar de não correr na areia, os joelhos do menino não se dão bem com o impacto, quanto mais perto da água salgada e das gaivotas melhor. À beira mar só mesmo as deliciosas caminhadas!
Convencer-me a ir correr uma maratona mais tranquilo, sem preocupação de ritmos…. Estou à espera de acontecer… Primeiro tenho que prender o Diabo… O objetivo de correr abaixo das três horas mantinha-se!!!

Nem tudo eram espinhos…

Tinha uma vantagem em relação a muitas outras preparações. Nada de lesões, eu disse isso a tanta gente. Acho que estava a tentar arranjar todos os aspetos positivos para o melhor dos pratos da balança. Mas não haver lesões é mesmo um peso pesado… Disso ninguém tem dúvidas!
O cumprir minimamente um plano de treinos em Agosto e Setembro, que em  princípio me pareceu um grande quebra cabeças, tornou-se normal. Foi apelar ao minimalismo, não me ficar a queixar. Tirando  a brincadeira das publicações no Instagram. “Não é para me gabar, mas… Tou todo partido…”. Ficava mesmo todo partido, mas nada irreparável. Hoje em dia há colas tão boas… Siga!


Bruxelas 

Fiquei surpreendido por ter gostado tanto da cidade. Somos brindados com céu nublado, frio, chuva, uma cidade cinzenta. Acho que no Algarve, temos mais sol num ano, do que Bruxelas tem desde 1814… Mas a multiculturalidade existente, dá cartas. A simpatia está no ar, nisso nada tem de cinzento. Não se preocupem muito com os idiomas estrangeiros. Um empregado num restaurante fala 371 línguas diferentes... Incluindo  a de vaca (Não resisti!!!)
Como é que eu fico quando estou muito irritado? Fico roxo de tanta raiva... Fico a parecer um gorila!!!

Não quisemos ir fazer check a sítios. Era aproveitar o tempo e misturar-se com as pessoas. Terra a terra. Talvez com a exceção do Atomium, que fica um pouco mais deslocado. Mas vamos lá a ver, eu cresci a identificar Bruxelas com aquela estátua. Para mim é a Torre Eiffel belga. Acabou por valer a pena, tirar uma foto ou outra para mais tarde recordar.

Depois uma visita ao centro da cidade, zonas históricas misturadas com o aproveitamento comercial. Roulottes, esplanadas a invadir praças, ruas, becos. Muito boa onda no ar, gostei da aura que se respira.

Tínhamos que ir ver o menino que mija… Pois, não podia faltar. O rapaz urina como se não houvesse amanhã, aquilo deve ser problema de cerveja a mais. Toda a gente sabe que a cerveja obriga a idas extras à casinha. Ele não sei, mas grande parte das centenas de pessoas que fazem lá peregrinação, levavam uma ou outra a mais no bucho… Pela formam como peregrinavam!!!

French Fries, acreditem ou não. A especialidade de um país são batatas fritas. Foram consumidas, e comprova-se que são realmente boas.
Acabo tal como comecei, fiquei admirado de ter gostado tanto da cidade!

A prova 

Na véspera fiz o treino de adaptação ao ambiente, os tradicionais 6 km com a t-shirt da maratona do Porto 2015.

Sou capaz de já ter falado nisto (muitos risos), mas vou explicar outra vez. Eu na maratona do Porto 2015 fiz quatro kms, dos quais não me lembro nada, do 34 ao 38, e os últimos 4 até aos 42, foram de um dramatismo que não lembra a ninguém. A maratona de Bruxelas foi difícil, como irei descrever a seguir, mas comparada com o Porto 2015, nem deu para começar. E fazer uma tatuagem Porto 2015?! Por acaso… Não!
A prova foi um pouco o reflexo da preparação. Se não treinas como deve ser, não podes esperar milagres. Depois o percurso é cheio de dificuldades, esse sim o mais difícil de todos, vou deixar a foto da altimetria. Garantidamente, não é uma prova para “tempos”, nem para iniciantes na distância.
Com a intenção de correr abaixo das três horas, tive que me desgastar muito mais do que se tivesse outro histórico de treinos nos dois meses anteriores. Mas nunca perdi o norte, sofri um pouco mais do que o habitual durante a prova, mas nada de extraordinário. Estou  mais do que recuperado.

Vou fazer um copy paste de uma publicação que fiz entretanto no Instagram. Acaba por ajudar a explicar mais um pouco do  que foi a minha  Brussels Airport Marathon. Fala de classificação, pódios e coisas…


Como é hábito, faço as provas de trás para a frente. A maratona, tal como muitas outras coisas, não é como começa. É como acaba!
Fui apanhado perto do km 2  a passar o pacemaker das 2:59. Só já faltavam 40 km, um nadinha de nada…
A saber agora a classificação, devia de ter mais ou menos 50 atletas à minha frente. Tive a companhia, ainda que por breves momentos, de uns trinta atletas ao longo do resto da prova.
21º da geral, 3º do escalão e 1º português a chegar à meta.
Já faltei aos pódios do escalão no Alentejo, no Algarve, em Lisboa. Faltava agora numa maratona internacional… E sempre pelo mesmo motivo.
Tenho sítios para ir, coisas para fazer…
Mas não está mal a foto, não está mal não senhor!


Às vezes temos de ter mais cuidado com a imagem que passamos às outras pessoas. Faço esta nota introdutória por causa do resto da publicação.

O destaque final fica entregue ao comentário do meu irmão Eduardo, quando se cruzou comigo às oito horas de Domingo, na A-do-Neves.

“Então já cá estás, fizeste grande tempo, ainda dizias que não estavas em forma... Estás cá  com uma cara de esforço…”. 

Acho que o rapaz pensa que o irmão dele  nasceu em Kripton… Mas não foi o caso… Foi mesmo no Hospital Distrital de Faro.

Eduardo, os bons resultados deixam marcas de esforço, não há volta a dar! Sabes porquê?   Porque saem diretamente do... PÊLO!!!

(Forte abraço para o mano mais velho, um dos fãs de primeira linha deste atleta)

Boas corridas!


  • 14ª Bruxelas 2019 2h 55m. Rijeza