sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Viena e Dublin

 A maratona do ponto de vista de um atleta de baixa competição!



GR60 

Em Julho de 2023 recebi um convite para participar num evento particular, GR60, a Grande Rota das Montanhas Mágicas, 275 km. Tudo isso está documentado em posts anteriores escritos pelo Carlos. O que não está lá escrito é que fiz os últimos 80 km lesionado… com uma dor no calcanhar esquerdo. Calcanhar achava eu… era o tendão de aquiles. Era o início de um calvário de lesões. (Se soubesse o que sei hoje tinha continuado na mesma, sem hesitar um segundo).


Comecei imediatamente os tratamentos e a respeitar na íntegra as recomendações. Estava inscrito na maratona de Bilbau em Outubro. Tinha esperança de recuperar a tempo dos treinos… resumindo… não recuperei!


Em Novembro já treinava com pouco incómodo no tendão, estava a fazer ponto de mira a Viena. Assim que voltei a treinos mais a sério em Dezembro, perdi a coxa direita…mais três semanas de paragem. Treinos mais intensos em Janeiro … perdi a coxa esquerda… mais três semanas parado... Assim que foi possível voltar à estrada, abdiquei completamente de treinos de velocidade. Tentei acumular o mínimo de km exigidos para completar a distância na capital austríaca. No entretanto ainda fui fazer a meia maratona de Berlim. Desisti com incómodo nas coxas… desisti, mas concluí!!



Maratona de Viena

Desde 2014 que não começava uma prova sem o objetivo de correr sub três horas. Saí com a intenção de correr mais devagar do que o habitual desde o primeiro metro. O que tinha passado nos meses anteriores fez-me cumprir à risca o meu plano. Vi paisagens, falei com pessoas, marquei passo a companheiros de viagem (vieram agradecer-me). Foi muito diferente do habitual. Não houve stress. Não houve pressão. Não foi ao meu jeito. Mas foi bom concluir os 42 km na bela cidade de Viena.



Eu sei, já passaram umas frases em que não escrevi nada sobre lesões… pois o plano de treinos de Dublin começa com mais uma… voltei a perder a coxa direita!!



Tendão de aquiles esquerdo, coxa direita, coxa esquerda, coxa direita. Como é óbvio este ping pong tem a ver com descompensação. Dói de um lado, carregamos no outro inconscientemente…


Quatro semanas de paragem, três semanas a perder o medo da dor, cinco semanas de treino. Sem treinos de velocidade pura e dura como é óbvio.


Tinha ainda uma paragem antes de viajar para a Irlanda. Ia fazer a meia maratona de Leiria, era uma espécie de TAC. O resultado do exame foi o que eu esperava. O estado de forma era… não estar em forma!! Apesar disso ajudou bastante a preparar a abordagem em Dublin! Para lá dos diagnósticos técnicos, houve o bom do convívio com a família do norte. Umas conversas, umas cervejas, comida da boa, muito muito bom!!

Para Dublin levei a família do sul. Curiosamente, boa conversa, umas cervejas, boa comida, muito muito bom!! Só a viagem com eles já era mais do que suficiente. Junta-se o plus de 42 km pelas ruas e pelos parques de Dublin.



Maratona de Dublin

A estratégia era diferente de Viena. Tinha a convicção de que se fizesse tudo normal na primeira metade da prova, havia a possibilidade de ir atrás das sub três horas. O objetivo era passar à meia maratona com 1:29… Passei com… 1:29… Ah pois é!! Cuidados e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém. Com muitas dúvidas e insegurança ao longo dos km, agarrei-me à experiência acumulada ao longo dos anos. As coxas aguentaram, e o resto é história. As 2:58 souberam pela vida. De longe a mais saborosa de todas!! Na Primavera há mais!!

Muito obrigado a tanta gente que foi dando uma palavra de apoio. Muito muito obrigado a quem me ajudou no tratamento das lesões. Eu prometo que vou fazer reforço 🙄 😁!!!


Em relação às duas cidades, culturas diferentes.


Viena é uma cidade monumento, qualquer foto dá um “postal”. Respira organização e segurança. As pessoas não são as mais expansivas, mas são muito educadas.

Dublin não tem tanto “postal”, mas tem pessoas… tem as pessoas mais simpáticas e afáveis de todos os sítios que já fui. Uma cidade segura e organizada também. Aquela fama de ter muitos bares… não é só fama!! É pessoal que adora festa bem regada!!

Para escolher entre as duas… utilizando uma expressão que usamos para muitas situações

Às segundas quartas e sextas, vivia em Viena… Às terças quintas e sábados, vivia em Dublin!!

Para dizermos bem de uma coisa, não precisamos dizer mal de outra. É uma velha máxima que me acompanha!! Gostei “imenso muito” das duas!!


E pronto já chega de partilha...


Boas corridas






sábado, 17 de agosto de 2024

 


Foi assim o início do torneio da vaca

…ainda podemos jogar?

- Agora já não dá, já fizemos o sorteio e já começou o torneio…

 Sou interrompido por outros dois indivíduos

-Ainda podemos jogar?

-Claro que podem, a vossa equipa adversária está aqui a falar comigo!

De 172 equipas passou à soma final de 174. Iam estar 348 pessoas a jogar à sueca no pequeno Centro Cultural e Recreativo de A-do-Neves. É juntar os acompanhantes, o staff, e tínhamos perto de 500 pessoas em pouco mais de 150 metros quadrados. Para ajudar ainda tinha outro pormenor. Tinha segunda volta… quem era eliminado na primeira ronda, entrava num outro sorteio para um prémio menor. Tinha tudo para correr bem… ou não!!


Introdução feita, vamos lá aos pormenores


Tinha tomado posse da direção do Centro em 2003. Nesse ano fizemos um torneio de sueca, englobado nas festas de Verão, com bons prémios. O primeiro lugar eram 4 borregos, já em comparação com outros torneios da zona, eram um luxo. Se não estou em erro, pouco mais de sessenta equipas. O que para a época era muito bom. Mas faltava qualquer coisa que inovasse… faltava qualquer coisa… faltava um golpe de asa. Tive a ideia da vaca, e lembro-me de pedir encarecidamente a toda a gente que contei que não divulgassem nada. Não podíamos correr o risco de ser copiados numa qualquer data antes. Todos cumpriram. A “bomba” só veio ao mundo quinze dias antes nos prospetos da festa. Era o assunto do momento. O torneio da A-do-Neves ia ter uma vaca no primeiro prémio… não ia ter uma, ia ter duas!!! Na mesma altura que tive a ideia da vaca, apareceu um prolongamento da mesma ideia …pusemos na rua seiscentas rifas para um sorteio de outra vaca… ah pois é! Foram duas!!!


Foi um dia longo. “Cuidar” de tanta gente num espaço tão pequeno não era tarefa fácil. Lembro-me que grande parte do staff perdeu a voz. Lembro-me do responsável do bar, o Zé Manuel, que infelizmente já não está cá, me dizer passadas pouco mais de duas horas do início do torneio. “Já não temos comida nem bebida, não há nada!!!”. Lembro-me de um atrito ou outro, sempre resolvido sem conflito.


Demos o valor monetário da Cornélia e da Mimosa aos vencedores do torneio e do sorteio. Não houve sacrifício animal.


Com todas as outras atividades da festa a darem um extraordinário contributo, o bar, a bilheteira, a quermesse, o torneio da malha, tiro aos pratos, etc, etc. Fizemos a melhor festa de sempre. A culpa foi da Cornélia e da Mimosa!! Não foi, a culpa é da A-do-Neves!


Veio do início dos anos oitenta a tradição de fazer festas de Verão. Um dos meus primeiros trabalhos foi recolher garrafas durante os eventos. Já com o meu irmão na direção, demos início à aquisição de uma antiga taberna/mercearia (devoluta), para construir aquele que é hoje o Centro Cultural e Recreativo de A-do-Neves. Tivemos (muita) ajuda das entidades públicas, Junta de Freguesia e Câmara Municipal. Mas a maior ajuda foi da A-do-Neves


Há uns tempos organizámos uma São Silvestre. Tivemos 300 pessoas a comer de borla no pós corrida no centro. Qualquer coisa impensável. A culpa é deste ou daquele… não, a culpa é da A-do-Neves



O exemplo esclarecedor de que a culpa é mesmo da A-do-Neves foi o jantar comemorativo do 20º aniversário do torneio da vaca.


Apareceu a ideia de fazer o almoço, divulgamos à população e a resposta foi o centro cheio. Em pleno mês de Agosto, mês de férias. Uma grande parte não mora atualmente na aldeia. As pessoas alteraram a vida delas para estarem presentes. Acreditem se quiserem…ainda sobrou dinheiro para comprar mais equipamento para o centro!!! Pessoas boas, gostam de receber bem, não se importam de trabalhar desinteressadamente. A culpa é mesmo da A-do-Neves!!



Como é óbvio havia mil histórias para contar, mas resumi o mais que pude para deixar este bocadinho no arquivo.