Azores Blue Island Ultra Trail!
Há um antes e um depois da Maratona do Porto, já disse isto algumas vezes, mas cada vez faz mais sentido.
A maratona do Porto foi como que a explosão de uma granada. Explosão essa que me tem feito chegar estilhaço atrás de estilhaço. Ficam gravados na pele como tatuagens invisíveis, mas cheias de significado!
No fim da prova que mais sofri até hoje, sou confrontado pelo Carlos Cardoso.
- Tive aqui a pensar e cheguei à conclusão que tens duas opções para fazeres parte do CAL!
- Sério! Quais?
- Ou fazes parte a bem, ou fazes parte a mal.
E tens participar num trail com o pessoal!!!
E pronto, dia 8 de Novembro de 2015 começa o Azores Blue Island Ultra Trail. A conversa com o Carlos pode não ter sido bem assim, mas isso agora não interessa nada. O trail dos Açores começou mesmo nesse dia!
Dia 27 de Maio de 2016, aterra o avião na ilha do Faial, como fazia parte da comitiva deixei-me ir, não havia volta a dar!
Como nunca sei como é que as histórias que começo vão acabar, vou aproveitar para fazer já um comentário à organização.
Lembrar-me da organização, faz-me logo lembrar de uma pedra no sapato. Mas ao contrário do que possa parecer não é uma metáfora encapotada, em que vem aí crítica por isto ou por aquilo!
Numa fase já avançada da prova, uma parte com mais vento, chuva e frio, entra uma pedra para dentro da sapatilha. Aguentei alguns kms, mas estava a ser insuportável, tive que parar para tentar resolver o problema.
Dedos gelados, sem sensibilidade e não querer parar muito tempo. Iria ser missão impossível!
Uma das colaboradoras da organização por perto percebeu a situação, descalçou-me a sapatilha, tirou o duplo nó dos cordões, fez sair a pedra e voltou a calçar-me.
Acho que esta situação faz bem um resumo de todo o resto, pessoas super disponíveis para ajudar, sem um único defeito a apontar. Sem um defeito a apontar, mas com mil coisas a agradecer. Muito, muito obrigado!
70 Kms sempre são 70 kms, nunca será fácil fazer grande resumo, vou dividir por itens de forma a (tentar) conseguir concluir esta reflexão!
Clube Atletismo Lamas
Esta prova nos Açores foi feita com o pessoal do CAL sempre presente, tentar correr um pouco por todos com o espírito de grupo que existe. Foi lá que fui fazer o primeiro treino de trail, foi só transportar para o terreno o que tinha sentido e aprendido em Canedo, foi facílimo!
Carlos Cardoso
O culpado disto tudo!
Nem me obrigou a assinar pelo CAL, nem me obrigou a ir ao Azores Blue Island Ultra Trail, muito longe disso!
O Carlos era para ter participado na prova, pelo menos por dois motivos.
Em primeiro porque queria muito, e em segundo porque estava dentro dos planos de treino de preparação para a aventura que tem marcada para o fim de Agosto, Mont Blanc na distância de 101 kms (CCC).
A parte profissional não o permitiu, todos sabemos que a corrida não pode ser a prioridade, por muito que custe.
Eu na altura e por arrasto acabo por escolher esta corrida para a primeira participação em trilhos a sério.
O CAL em vez de três, passou a dois representantes. Eu e o Filipe Fontes!
Ainda deu para partilhar um bocado de corrida com o Filipe, sempre com a boa disposição à flor da pele. Sempre "sem stress", grande Filipe!
A verdade é que o Carlos continuava a ser o culpado disto tudo.
O facto de ele não poder participar, fazia subir a "responsabilidade" de fazer uma boa prestação.
Felizmente isso aconteceu, é uma forma de "pagar" a experiência que eu passei, experiência cinco estrelas!
Jerome Esteves
Conheci o Jerome no vão de escada do primeiro andar até ao átrio da residêncial onde iria ficar hospedado.
Ele para mim.
-Afinal somos colegas de quarto e tal, não sabia que ía haver quartos divididos. Ressonas durante a noite? É que eu tenho mesmo que dormir!
Dei uma resposta elaborada, mas o que interessa foi o fim. Não, não ressono!!!
Isto já de saída da residencial para o secretariado da prova.
Num dos passeios da rua apresentou-me um casal.
-É o Diogo e a Patrícia, um casal amigo que vem participar na prova.
Do outro lado da rua apresentou-me outro casal.
-É a minha mãe e o meu pai, a Sra Monique e o Sr Américo!
Epá, já tinha passado muito tempo que se conhecíamos, mais ou menos uns dois minutos. E pronto já tinha arranjado uma família de acolhimento!
Fomos recolher os dorsais. E depois, ficámos para o briefing?
Não ficámos, o Jerome disse que já tinha ouvido muitos briefings. Afinal íamos ao Peter's, nada de briefings!
Foi uma sorte do caraças o colega de quarto.
O Jerome tem histórico e performances como deve ser na disciplina do trail, basta dizer que vai também participar no Mont Blanc, na distância de 170 kms (UTMB). E as "licenças" de participação nas distâncias do Mont Blanc não são propriamente por dá cá aquela palha!
A preparação da prova ouvindo conselhos de quem sabe e copiando comportamentos, fez toda a diferença. A prova nunca teria sido o que foi sem o Jerome, nem de perto nem de longe!
Carla André
A Carla André é uma rapariga que se dedica às corridas, só que às vezes exagera um bocadinho nas distâncias, vai a certos e determinados sítios e fica por lá a correr durante muito tempo!
Há vasta informação sobre os seus desempenhos por essa Internet fora. Dizer por exemplo, que agora está de malas feitas para ir fazer 217 kms dia 18 de Julho em condições, que sim senhor!
Vai ser a primeira representante feminina de Portugal a participar na Badwater, uma das mais exigentes provas do planeta Terra. Por acaso não tenho ouvido falar em provas de atletismo alienígenas, mas quem é que sabe?!
Aproveitou e veio participar nos 70 kms dos Açores, sempre com algum receio de se lesionar, muito perceptível.
A rapariga faz da resistência e resiliência a sua imagem de marca, essa prova nos EUA vai correr bem!
No dia seguinte, foi com a Carla e o Jerome que tive a fazer o rescaldo da prova açoriana.
Muito simpática e óptima companhia. Temos alguns hábitos e objectivos comuns no que às corridas diz respeito. No próprio dia chegou a fazer equipa comigo para tentar convencer o Jerome a...!
Para tentar convencer o Jerome a fazer uma maratona.
Não perdemos a luta, ele "prometeu" que irá fazer uma maratona. Só com um pormenor, será depois de nadar e andar de bicicleta uma remessa de kms. É isso mesmo, num Iroman!!!
Nota-se que tive alguma sorte nas minhas companhias. Nota-se não é!
Sra Monique e Sr Américo
Agora aqui é que estão as dificuldades!
Tive toda a tarde da véspera com o Jerome, o Diogo, a Patrícia, a sra Monique e o sr Américo!
Fiquei a saber que os pais do Jerome também iam participar na prova. Pensei é que essa participação seria em terrenos com menos dificuldades, apesar dos 23 kms!
Quando me cruzei com eles na prova, não queria acreditar que eles tinham que ir pelos mesmo trilhos que eu estava a passar. Não queria acreditar!
Perguntei inúmeras vezes a atletas nas proximidades se o percurso que eles tinham que fazer, era aquele que estávamos a passar. Eu não queria acreditar!
Muito frio, muita lama, subidas íngremes, descidas com um lamaçal terrível, etc etc etc etc!
Não se diz a idade das senhoras, mas o sr Américo tem 83 anos, não me enganei, 83 anos!!!
Serão inesquecíveis para o resto da vida, pela lição que me deram, eu ainda hoje estou a desejar que eles não precisem de passar por aquilo. Mas já passaram, e chegaram à meta com uma dignidade enorme!
Foi extraordinário ver o Jerome e o Diogo, ir ter com eles para partilhar as centenas de metros finais. Muito bom!
Sabem qual era a grande preocupação da sra Monique na chegada?
Parece a ser mentira!
Estava preocupada com a participação da Patrícia por aqueles trilhos. Dá para acreditar?!
Conheci um casal maravilhoso, a sra Monique e o sr Américo, muito obrigado por isso!
Uma estreia em trilhos como deve ser!
Fica mais que provado que sozinhos não fazemos nada.
Um enorme obrigado a todas as pessoas que mencionei na reflexão e a todas as pessoas que directa ou indirectamente fazem parte destas minhas aventuras na corrida.
É óbvio que tenho uma fonte de energia inesgotável, nas maiores dificuldades são os meus filhotes que fazem o último esforço, dão mais um passo, fazem mais um metro. Nunca falham!
Principalmente por não ter podido participar, mas também por ser o culpado disto tudo, a prova tem uma dedicatória particular, Carlos Cardoso!
Obrigado e um forte abraço!
Boas corridas!
Ó páh ... estou a suar dos olhos como uma Madalena ... e não estou a brincar desta vez ... obrigado Luis. E mais uma vez muitos parabéns pelo feito, mas muito mais por seres como és. Grande Abraço
ResponderEliminarÉ de uma justiça tremenda o que escrevi sobre seres o culpado daquilo tudo.
EliminarForte abraço!
Sem dúvida que encontraste pessoas extraordinárias :)
ResponderEliminarTiveste muita sorte de as encontrar, mas também o espírito de as apreciar desta forma tão fantástica ;)
Muitos parabéns pela conquista nos trilhos e obrigada pela partilha :)
Força e continuação de bons treinos e provas por esses trilhos fora :)
Mafalda
Olá Mafalda.
EliminarObrigado pelas tuas palavras.
Senti-me um privilegiado, essa é que é a grande verdade!
Simplesmente tive de existir, o resto veio por acréscimo. Foi uma experiência extraordinária.
Se tiveres também o gosto da corrida e dos trilhos, bons treinos e provas para ti!
Mais uma vez obrigado pelo comentário!