Como não há provas no radar, porque não falar um pouco da preparação para a maratona de Barcelona.
Um plano de treinos é uma autêntica montanha russa. E se apanha a época natalícia/fim de ano, então é para esquecer. Fiquei com esse conhecimento, na experiência que foi preparar Sevilha 2014, prova que está calendarizada nos últimos fins de semana de Fevereiro.
Tem que haver um “jet lag”, que não lembra a ninguém. Planos de treino, não gostam de jantares de Natal. É verdade, isso só acontece porque sou um atleta de baixa competição. Tenho a regra, muita corrida sim senhor, mas não posso interferir em excesso na parte pessoal. Há mais vida para além da corrida.
Hoje é mesmo sobre corrida que vou escrever, alguma vez tinha que ser.
Divido o plano de treinos em três tipos de treinos. Técnicos, longos, e de recuperação. É elaborado por mim, e como já tenho alguma bagagem acumulada, vou ver ao histórico, o que andei a fazer em determinadas fases de cada preparação. A partir daí, a construção do plano vai sendo alterada. Aproveita-se o que resultou, e altera-se o que correu menos bem. Mas isto é a parte lógica da coisa. Porque às vezes num só treino, há mil alterações.
Aos treinos longos, chamo-lhe as minhas pequenas maratonas.
Na generalidade dos treinos longos, com trinta ou mais kms, existe sempre a sensação de uma pequena maratona. Como são feitos em intensidade moderada, no fim, fica aquela sensação, mais uma banana e meio litro de água no bucho, e hoje fazia os 42.195m… São as tais “pequenas maratonas”. Mas é mesmo para isso que os treinos longos servem. Para dar confiança.
Os treinos técnicos são uma carga de trabalhos… Há dois anos que não faço séries. Achei que ia melhorar a minha vida com essa deliberação. Melhorei?! Nem por isso!
Uma lesão num treino de séries na preparação de Paris 2016, fez-me tomar essa decisão. Em vez de ganhar velocidade, com esse treino, ganhei uma remessa de dores de cabeça.
O problema foi o que veio substituir as séries. Fartlek e treinos de ritmo. Parecem nomes inofensivos, parecem, mas não são. Tiram o sangue todo aos ossos.
Como estou “proibido” de competir, ponho muita lenha a arder nos treinos. Por norma fico queimado, mas muito. Também é verdade que às vezes saem registos que trazem alguma ajuda, ajuda para os treinos que se seguem. Pura motivação. Vou deixar dois exemplos disso.
Na tarde de Halloween, tinha decidido, dez minutos de aquecimento, quinze minutos à morte (às escuras), dez minutos de volta à calma. Só que no meio dos quinze rápidos, não resisti a ver o relógio. Ia abaixo do melhor registo dos cinco kms. Que sofrimento aqueles últimos mil metros… Não fiz os dez minutos de volta à calma, não estava capaz, mas pulverizei a melhor marca da distância, tirei vinte e quatro segundos ao antigo recorde.
E as séries é que são sofrimento…
Recentemente noutro treino técnico “inofensivo”, voltou a haver sofrimento a sério.
Saída para um treino progressivo de dez kms. A ideia era correr progressivamente, e no total ficar abaixo do minuto trinta e oito. Os primeiros cinco kms tinham que ser feitos às escuras, por sensações. Na consulta intermédia, com “pernas” para andar, a média apontava para o melhor desempenho nos dez kms. Os últimos cinco kms em contra relógio, deixaram a sensação que posso pensar em entrar no minuto trinta e quatro. Mas tenho que confessar, no último km estava no limite. Voltei a pulverizar um registo, desta vez, quarenta e dois segundos menos.
E as séries é que são sofrimento...
Lembro-me, do que disse ao meu irmão e ao Ricardo, há mais ou menos quatro anos. “Um dia, corro uma maratona em 2h:48, corro uma meia maratona numa 1h:16, e corro os dez kms em 35 minutos. Falta a meia maratona. Mas não é para agora, estou numa de maratonas…
Durante os treinos técnicos, um dos pensamentos é, amanhã é dia de recuperação, amanhã é dia de recuperação, ... É o cérebro a negociar o sofrimento. Os treinos de recuperação, são os treinos fofinhos. Se houvessem só treinos de recuperação... O mundo... O mundo, era um mundo melhor, mais fofinho!!!
Por falar num mundo melhor, vamos lá falar do melhor ambiente que existe para treinar, disse ambiente, não disse piso. Eu já tenho dito que adoro treinar à beira mar. No momento parece-me que era capaz de correr interminavelmente. Fico com a sensação de que a maresia me alimenta. Revitaliza o corpo e a mente. Ainda por cima gosto da água do mar, sim, mesmo para beber... Dá a sensação, que se não houvessem barreiras, nunca mais parava. Temos que tirar o exagero, como é óbvio.
Excesso de treinos na praia, fez-me parar a preparação do Porto 2016, duas semanas. Uma lesão num joelho. Agora tenho o compromisso interno, em alturas de plano de treinos, nada de corridas na praia. É proibido.
Um dia destes, tinha que fazer uma hora de recuperação, mais ou menos doze kms. O problema foi, que tinha areia à vista. “Não podes… Mas eu gosto tanto… Não podes… Mas eu gosto...” Da hora disponível, estive meia hora a negociar com a mente. Consegui a outra meia hora na praia, seis kms na areia, mas prometi que ia devagar. Cumpri. E depois ainda encontrei pessoal conhecido. Quiseram tirar fotos e mais não sei o quê… Malta aborrecida!!!
Se eu mandasse, a pista onde treino, tinha mar à volta. Todas as estradas onde faço longos, eram resvés o oceano Atlântico. E os treinos de recuperação, eram feitos em passadiços à beira mar. Mas pronto, não sou eu que mando…
E não é que escrevi sobre atletismo?!
Hoje foi dia de treino fofinho. Recuperação em dia de Natal. Aproveito para deixar votos de um bom Natal a quem vem aqui ao cantinho de reflexões.
Aquilo da alimentação à base da maresia, não está comprovado. Se for só maresia a pessoa perde muito peso. E a água salgada dá uma certa sede. Nem tudo o que é poético de escrever, resulta na prática. Há por aí muitas dietas, mas nunca ouvi falar na dieta poética.
“Fico com a sensação de que a maresia me alimenta.” Isto só visto, contado...
Bom Natal, boas corridas!
Olha ... nem sei o que diga, pétaculo. Sentimentos parecidos enquanto corremos, ritmos muito diferentes ;) ... espero que o natal tenha sido bom epor fim até sábado.
ResponderEliminarGrande abraço
Nunca conseguirei bater uma corrida, da qual eu vi o vídeo, de tu conseguires competir com um cargueiro. Algures por essa Europa. Num treino ao calha, treino fim de tarde.
EliminarDiz muito dos atletas vão de escada que somos... Ou então, diferentes!!!
Até Sábado. Forte abraço!