quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

A minha professora Maria Esteves! Sim porque isto não é só corrida!

Reciclagem!

Reflexao de 9/08/2014!

A maratona do ponto de vista de um atleta de baixa competição!
A minha professora Maria Esteves!
Então isto não é um sítio de reflexões semanais sobre a maratona com um certo e determinado rigor científico?
Por acaso até é. Mas hoje não vai ser!
Tenho pouco hábito de escrever, a não ser nestas brincadeiras acerca da maratona. Agora escrever para uma professora de português, e ainda por cima quem é, nunca esteve nos meus planos, nem em sonhos!!!
Vou tentar concentrar-me no conteúdo e não na forma. Vou partilhar aqui duas situações, das muitas que tivemos em comum, sem rede.
A primeira tinha eu os meus 13/14 anos, como qualquer adolescente tinha atitudes irreflectidas. Uma
das brincadeiras de mau gosto que praticávamos era passar piripiri nos lábios dos miúdos, para que eles se ficassem a contorcer com a dor, e nós nos ficássemos a divertir. Numa dessas brincadeiras com a minha autoria, um miúdo ao chorar acabou por passar as mãos nos lábios, depois nos olhos e foi obrigado a ir ao hospital.
Quando fiquei a saber, só conseguia imaginar na minha cabeça que tinha um enorme problema com dois nomes, um deles era “Maria” e o outro era “Esteves”.
No decorrer de uma aula, penso que era de francês, no primeiro andar do bloco, uma auxiliar bate á porta e pergunta:
- Está aí o Luís?
- Está sim.- respondeu o professor.
- A professora Esteves pediu para ele ir imediatamente ao conselho directivo, é que ela está lá e precisa de falar com ele.
Foram os metros mais difíceis da minha vida (qual maratona, nem maratona). Estava lá o miúdo, pedi-lhe desculpa e ele saiu. Levei o maior sermão da minha vida, nem me consigo lembrar de tudo, porque o coração tava tão preocupado em levar sangue aos órgãos vitais de forma a que eu não desfalecesse ali mesmo. Isso afectou-me a memória.
Professora, ainda não consegui desatar o nó que me apareceu no estômago.
Tenho de dizer que, mais tarde, tornei-me amigo do miúdo até ao fim do tempo escolar.
Na segunda situação, estava a minha professora Maria Esteves a escrever uma matéria no quadro, e aqui o espertinho disse:
- Professora, acho que a palavra “surpresa” não se escreve assim!
A minha professora Maria Esteves, sem se voltar disse:
- 50 vezes no caderno amanhã!
- Mas prof…!
-100 Vezes no caderno amanhã!
- Prof…!
-200 Vezes no caderno, LUIS !!!
Quem é que acham que tinha razão? Pois não era eu, não senhor!
Nessa noite preparei várias páginas como ilustra a foto da publicação, e dormi descansado sobre o assunto.
No outro dia quando mostrei a alguns colegas, eles disseram-me:
Não estás bom da cabeça. É a professora Esteves. Tens a certeza disso. Não te chegas a sentar, olha que é a professora Esteves. É a professora Esteves...
A minha professora Maria Esteves pegou nas folhas, e disse-me:
- Pela ousadia e criatividade deixo que fiques na sala, vai-te sentar antes que eu mude de ideias!
Sentei-me com o ego inflacionado, nesse dia desafiei os limites, mas consegui tocar no céu. Quem foi aluno da minha professora de português sabe que o que se tinha acabado de passar, estava ao alcance de muito poucos. Muito poucos mesmo.
Felizmente consigo lembrar-me de quase todos os professores, e foram muitos. Sem falar em nomes, porque iria ser injusto, tenho que sublinhar a minha professora primária que foi muito importante para mim, muito mesmo. Todos os outros foram importantes, porque só tenho boas recordações. Como é óbvio uns mais do que outros.
Mas hoje é para falar da minha professora Maria Esteves.
Com ela aprendi como é que se ganha o respeito e a amizade dos outros. A ser mais justo. Deixou-me bem vincado que a nossa liberdade acaba no mesmo sítio onde começa a dos outros. Embora eu ainda hoje continue com inúmeros defeitos, foram aprendizagens que me ajudaram bastante a desenvolver algumas competências. Não foi só na transmissão de valores que ela foi grande, fez com que, mesmo sem ela saber, tivesse sempre uma sensação de confiança, de protecção. Foi sempre um porto muito seguro. É sempre muito bom ter alguém em quem confiar, nem que seja uma só pessoa.
Eu consegui escrever isto sem me emocionar? Não consegui. E não tenho nenhum problema em assumi-lo. Até serve para provar a certas e determinadas pessoas que os homens também "sentem sentimentos". Embora eu tenha que concordar que as mulheres vêm melhor equipadas nesse sentido.
Sei que na maneira de ver da minha professora de português, as coisas foram diferentes, porque existiam mais “Luíses” com arestas para limar, mas foi assim que eu vivi esse período. Vai servir para que eu finalmente desate o nó do estômago daquele dia no conselho directivo.
Vai servir também para que os meus filhos saibam que houve alguém, muitos anos antes de eles terem nascido, que influenciou muito a educação deles.
Nunca pensei que tivesse a oportunidade de fazer este agradecimento público, mas desde Domingo, dia que troquei mensagens consigo através do Facebook não consegui pensar noutra coisa. Tenho por si um enorme respeito e muito carinho. Muito e muito obrigado por tudo!!!
Apesar de não se falar em maratona, não deixa de ser o ponto de vista de um atleta de baixa competição!
Em primeiro lugar peço desculpa pelas gralhas e em segundo peço desculpa pela ousadia, mas eu não consegui não fazer isto.

Ora vamos lá ao "Plus"!
Para lá desta reflexão mexer com o atleta de baixa competição como se não houvesse amanhã, fiquei muito contente por ter feito este agradecimento público a quem tanto o mereceu. Foi mesmo o desenrolar de um nó no estômago, no melhor dos sentidos.
Mais uma vez muito obrigado, professora Maria Esteves!
Boas corridas!

2 comentários:

  1. Clap, clap, clap ... bonita homenagem à Prof.Maria Esteves.
    Aquele abraço

    P.S. Já naquela altura eras fresco para assar, eras eras? Havemos de trocar estas histórias de escola, à desgarrada ... olha que a correr ganhas-me, nas traquinices na escola já não sei ;) ... a mim davam-me para um novo blogue, mas é melhor não ;)

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    1. Sempre dentro da nossa "competição" havemos de ver isso!
      Eu ainda me tremem as pernas daquela prova. Da sala de aula até ao conselho directivo,... foi a minha primeira maratona do Porto!!!
      Foi sofrer a bem sofrer!
      Eu já tenho dito, não encontramos só pessoas ruins na nossa vida! A professora Esteves foi a antítese dessas pessoas!
      Tive que acabar com uma figura de estilo, tás a ver?!?
      Forte abraço!

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